15.7.05

P E S S O A S N A S A L A D E J A N T A R

Sim, fui. Sérgio Dias é um senhor de meia-idade com a pele flácida e a boca pequena e dentucinha. Já me disseram que ele é o menos mutante de todos os três. Não importa. Curti o show de qualquer forma. Quase tanto quanto curtia o show dos Arnaldos no Vermelho 23 no fim do século passado. O Márcio é até mais performático que o Sérgio dos dias atuais. Não importa. Curti. Até uma onda de tiete. Fui a número um no camarim. Ele foi bem simpático e até elogiou minha educação. Legal deixar uma boa impressão de Porto Alegre.

12.7.05

J O H N F A N T E

Gostei tanto de Pergunte ao Pó (Ask the Dust, 1939) que saí recomendando pra todo mundo. Se eu fosse uma daquelas excêntricas velhotas americanas, compraria uns 40 exemplares e sairia distribuindo com os cumprimentos de. Senti até vontade de ligar pro meu ex, que agora é um homem casado e evita me olhar nos olhos, e sugerir a leitura, se é que ele ainda não leu. Arturo Bandini no meu imaginário tinha a cara, as madeixas, os olhos e os óculos fundo-de-garrafa dele. E as mesmas amarguras, porém disfarçadas por uma pitada de açúcar que só a inocência dos vinte e poucos anos do personagem de Fante teria. Tarde demais pra nós dois.

Devolvi o livro para a biblioteca no sábado e encontrei apenas mais um título do mestre: Rumo a Los Angeles (Road to Los Angeles, 1936). Por sorte mais um volume com a história de Arturo, o alter ego de Fante. Como se não bastasse, ainda tive a felicidade de descobrir que este foi o primeiro livro escrito por Fante sobre a vida de Bandini, no caso ainda em sua cidade natal durante a adolescência. Dei início à leitura no mesmo dia. Interessante perceber a diferença de maturidade da narrativa entre os dois livros. Pergunte ao Pó é seco como o título, duro como a vida do personagem nele. O Bandini de Rumo a Los Angeles é um adolescente, confuso como a muitas vezes truncada narrativa que o descreve. Foi observando isso que acabei por descobrir que John Fante iniciou o livro em 1933, apenas concluindo-o em 1936 quando foi publicado. O outro, no entanto, é de 1939, quando Fante já (quase) ultrapassava a trigésima idade. Foi durante esta conclusão que me percebi divagando se precisamos do distanciamento crítico até mesmo para criar um personagem baseado em nós mesmos. Nunca é tarde para perguntar-se.