11.10.05

N A D A H A V I A N O F U N D O D O P O Ç O

Tomei o caminho de volta. Fui até lá e vi que nada tinha. Na real era só lama e escuridão. Detonação e ilusão. O fundo do poço é lá embaixo, mas volta e meia teimo em ir até lá só pra ver se continua tudo igual. E continua. O problema é que volto sempre mais suja de lama do que da última vez. E um pouco perdida por causa da falta de luz. Mas tô voltando.

Isso aqui era pra falar de curas, lembra-se? Talvez por isso tanto tempo longe de escrever. Muito doente andei. E nem um pouco interessada na cura. É uma doença doce, em que me permito envolver como se numa aconchegante película. Com o tempo essa película vai engrossando e eu me afastando cada vez mais da realidade. Me cegando e sufocando, mas sem deixar eu perceber. Creio ser assim que um adicto em heroína deva se sentir. (E eu passo por todo esse processo usando substâncias 100% lícitas, à disposição de quem queira.)

Um drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996). Apelidamos assim aquele lugar. Apelidamos. Nós os íntimos. Os vampiros. Fico lá sentada naquele balcão bebendo, comendo, fumando, flertando como se aquilo me mantivesse viva. Quando na verdade (aquela verdade cinza e feia fora da matrix, da película, mas uma verdade real) tudo isso me mata aos poucos. Estou morrendo e não quero ver. Finjo vida, mas exalo morte. E cheiro de trago e cigarro no dia seguinte.