25.11.07

H O M E M P R A Q U Ê ?

Pleno domingo, a casa um emaranhado de pêlos de gato, lençóis, almofadas, roupas para lavar e louça suja na pia. Num ímpeto de ocupar a cabeça com praticidades e evitar que as irracionalidades tomassem conta, decidi que finalmente chegara a hora de provar pra mim mesma que homens são um artigo em desuso. Depois de quinze dias sem usar o fogão porque a mangueira furara, rompi com meu último medo na seara masculina dentro de uma casa: o gás. Eu que há anos já me orgulhava de saber trocar uma resistência de chuveiro, após uma unha quebrada e alguns arranhões, descobri que não dependo de mais ninguém. Uma alegria quase infantil preencheu meu corpo, escanteando certos pensamentos emotivos que andavam atormentando meus minutos nestas duas últimas semanas.

Dizem que as mulheres passam a vida procurando um homem que esteja à altura da figura paterna. Meu pai educou a mim e minhas duas irmãs (deixo meu irmão fora disso) para sermos independentes. Quase como homens. Ao mesmo tempo em que sempre foi ele o provedor, nos ensinou que não dependêssemos de nem uma outra pessoa para conquistar o que quiséssemos. Aos dezesseis anos ouvi dele as duras (porém sábias) palavras que nunca saíram da minha cabeça: "Não existe liberdade sem independência. E independência só significa independência financeira". Cresci um espírito livre, tenho orgulho de tudo que ele me ensinou e, conseqüentemente, do que conquistei. Apesar de muitas vezes ouvir das pessoas que meu raciocínio é bastante masculino, existe algo em mim que não nega meu gênero. Sinto tudo muito intensamente, como se estivesse numa constante TPM. Nada mais feminino que isso. Ironicamente.

Na minha juventude lutei muito contra a mulher que sempre tentou emergir. Acreditava que só havia espaço para o homem em mim, o forte, provedor, insensível. Aprendi a apreciar coisas típicas do mundo dos homens e tentei conviver com eles como se fosse apenas mais um. De uns tempos pra cá passei a entender que homens e mulheres podem sim conviver em harmonia até mesmo dentro de uma só pessoa. E descobri a agradável sensação de ser emotiva, delicada, carinhosa. Passei a ter que aprender coisas típicas do mundo das mulheres: maquiagem, perfumes adocicados, instinto maternal, cozinha. Morar sozinha há tantos anos e saber trocar uma resistência de chuveiro, mas ter de tomar café instantâneo passou a se tornar contraditório. Logo eu que sempre apreciei um pretinho bem passado! Modéstia à parte, hoje ninguém passa um cafezinho tão bem quanto eu. Ao menos para o meu gosto. E nesses quinze dias sem fogão e de aperto no coração tive que apelar para o homem que mora aqui comigo me tirar das profundezas desse lago que são as emoções e trocar a maldita mangueira do gás, pois não agüentava mais ficar sem exercitar a culinária.

Enfim vou poder tomar um café.

PS.: o mais engraçado de tudo é que a única vez (há muito muito tempo) que um homem se ofereceu para trocar a resistência do meu chuveiro, fiquei sem banho em casa por uma semana. Essa mesma criatura se ofereceu dia desse pra trocar a tal mangueira. Achei melhor não. Além do chuveiro e meu coração, ainda ia estragar o fogão? Não, obrigada.

22.11.07

P E S S O A S S Ã O R I D Í C U L A S

Meu amigo Emo tem razão: a melhor filosofia é "pé na porta e soco na cara". Eu chuto o balde mesmo. Sou impulsiva, agressiva, cáustica, irônica, vil. É só meu sangue borbulhar que aí fudeu. Quando criança eu era daquelas que bastava ver que o jogo não estava muito para as minhas peças que lá ia uma "bomba atômica" para cima do tabuleiro de War. Depois, é claro, tinha que arcar com as caras feias de quem estava ganhando. O pior mesmo era quando a quase-vencedora era minha prima Juliana, que hoje em dia se auto-define "humor: rude" no Orkut. Mas o convívio com a Ju me ensinou a não temer a reação de ninguém e ir por meus própios desígnios.

E foi assim que eu acabei me rendendo a minha própria consciência (que pesou pra caralho nesses últimos dias) e tomando uma atitude que muitos possam classificar como ridícula. Isso só combina comigo. Consciência limpa, aprendi que certas coisas fazem mais mal para nós mesmos do que para quem a gente quer atingir, então que se dane o papel de ridícula. Todas as pessoas são ridículas nas suas convicções. Depende apenas do ponto de vista.

E Game Over. Pois o fim do jogo é apenas o prelúdio do próximo.

16.11.07

C A R T A S D E A M O R S Ã O S E M P R E R I D Í C U L A S

Escrevo melhor do que falo e também porque não quero te dar o trabalho de ter mais uma pessoa "magoada" contigo nessa vida. E sem teu email, vai assim mesmo, a mão.

Tu invadiste minha vida por três dias sem me dar tempo pra pensar em mim ou fazer qualquer outra coisa que não te dar colo, atenção, apoio e carinho. E eu só te pedi uma coisa: honestidade. Cartas na mesa, entendes? Não fui eu quem te pediu pra te acompanhar em ensaio, fazer churrasquinho no feriado, ou pra ficar contigo no final de semana seguinte. Foi tu. E se a tua vontade mudou, ora, nada mais honesto com uma pessoa tão legal como eu fui contigo do que dizer um simples "não quero mais". Quando percebi isso e te perguntei, tu me desconversou. Pra quê? Totalmente desnecessário. Certamente teria doído ouvir na hora, mas não teria me deixado sentindo uma trouxa.

Eu tenho uma vida muito boa. Tenho uma casa que eu amo, minhas gatas que cuido tão bem, um trabalho que eu curto bastante, grana suficiente pra fazer várias coisas que me dão prazer. Tenho amigos bárbaros, minha família é ótima e namoricos esporádicos que normalmente suprem minhas eventuais carências emocionais e físicas. Eu não tô a fim de me relacionar seriamente com ninguém e isso não é uma fase. É simplesmente a ausência de homens que me despertem este desejo. Se eu quiser me "relacionar" com alguém, esse alguém vai ter que ser no mínimo do mesmo nível que eu. Uma pessoa viva, cheia de energia, com coração, cultura, objetivos na vida. Gente fodida e mal paga tem bastante por aí. E eu entendo bem essa necessidade de vocês de querer estar perto de mim e sugar um pouco desse brilho todo que emana da minha pessoa. Por isso eu não fico magoada.

Tenho certeza que lá no fundo tu tens um resquício de dignidade e vais acatar um último (e único) pedido meu: faz-de-conta que a gente não se conheceu. Apaga meu telefone da tua agenda e pronto. Tu não te incomodas mais comigo. E eu sigo aproveitando a vida fantástica que eu construí pra mim.

Um beijo e boa sorte.

1.11.07

L O S T I N C U R L S

O texto é mais antiguinho, mas tá valendo ainda a profusão de idéias...
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Perdi o sono exatamente às 4:08. Às 4:39 desisti da cama e levantei com o firme propósito de escrever uma história daquelas bem cabeludas. Já são agora 5:07 e, ao invés disso, emaranhei meus pensamentos em bastos cachos escuros, mais longos que os meus. E fico aqui a me perguntar como é que alguns centímetros de fios a mais que o padrão me fazem perder a cabeça dessa maneira. O mais pitoresco de tudo é que fico arranjando desculpas pra me apaixonar e o sexo nem foi assim tão bom. Tá certo, não culpo a sua pouca experiência – ao menos foi o que me pareceu – nem a minha falta total de tesão em função dos 20mg diários de fluoxetina. Álcool demais e privacidade de menos. A verdadeira fórmula do fracasso. Pelo menos pra mim. Porém não posso negar que tenho calafrios só de lembrar do erre do meu nome pronunciado enrolado, à Texana, tantas vezes ao longo da noite. E outros pequenos detalhes, que de sexuais nada tem a ver, mas que a cada trepada me convencem de que sexo não é mesmo resposta pra nada, a não ser saciedade, assim como beber água, comer, respirar, aquecer-se.

Então que estamos lá deitados, completamente nus, ele a acariciar meu rosto e meu corpo como nenhum one-night-stand jamais se dispusera e, repentina e inesperadamente ouço a banalidade da pergunta No que é que você está pensando, como se fôssemos assim íntimos de tanto tempo. E eu, completamente surpreendida respondi com um frívolo Nada e emendei com o pouco poético Em como deve estar frio lá fora, e só a pensar em como me irritava quando o outro, aquele com status de namorado, me respondia assim com tantos Nadas.

E agora já são 5:47, quase hora de tocar o despertador oficial e eu me dou conta de que perdi praticamente duas horas e nada de frutuoso foi escrito, pois estas reminiscências não servem pra nada a não ser rememorar com um certo prazer nostálgico um momento que mal tem mínimas chances de se repetir. Apesar de não passar de presunção auto-protencionista da minha parte achar que todos os homens são sempre iguais.
Vou diminuindo os parágrafos de tamanho para que o corte não seja assim tão súbito. Já não há nada mais da dizer, pois todo meu desejo de escrever se resumiu ao conteúdo do segundo parágrafo, que não passa de uma ode aos meus próprios atributos e façanhas, bem ao estilo egoísta pós-moderno dos nossos tempos.

Escolho agora algumas palavra para servirem de desfecho, mas nada me vem à cabeça, a não ser mechas dos meus próprios caracóis que escapam da presilha mal ajeitada no emaranhado de cabelos enredados por uma noite de reviradas no travesseiro. E um pouco do sono que me volta ao fundo dos olhos.