Dizem que as mulheres passam a vida procurando um homem que esteja à altura da figura paterna. Meu pai educou a mim e minhas duas irmãs (deixo meu irmão fora disso) para sermos independentes. Quase como homens. Ao mesmo tempo em que sempre foi ele o provedor, nos ensinou que não dependêssemos de nem uma outra pessoa para conquistar o que quiséssemos. Aos dezesseis anos ouvi dele as duras (porém sábias) palavras que nunca saíram da minha cabeça: "Não existe liberdade sem independência. E independência só significa independência financeira". Cresci um espírito livre, tenho orgulho de tudo que ele me ensinou e, conseqüentemente, do que conquistei. Apesar de muitas vezes ouvir das pessoas que meu raciocínio é bastante masculino, existe algo em mim que não nega meu gênero. Sinto tudo muito intensamente, como se estivesse numa constante TPM. Nada mais feminino que isso. Ironicamente.
Na minha juventude lutei muito contra a mulher que sempre tentou emergir. Acreditava que só havia espaço para o homem em mim, o forte, provedor, insensível. Aprendi a apreciar coisas típicas do mundo dos homens e tentei conviver com eles como se fosse apenas mais um. De uns tempos pra cá passei a entender que homens e mulheres podem sim conviver em harmonia até mesmo dentro de uma só pessoa. E descobri a agradável sensação de ser emotiva, delicada, carinhosa. Passei a ter que aprender coisas típicas do mundo das mulheres: maquiagem, perfumes adocicados, instinto maternal, cozinha. Morar sozinha há tantos anos e saber trocar uma resistência de chuveiro, mas ter de tomar café instantâneo passou a se tornar contraditório. Logo eu que sempre apreciei um pretinho bem passado! Modéstia à parte, hoje ninguém passa um cafezinho tão bem quanto eu. Ao menos para o meu gosto. E nesses quinze dias sem fogão e de aperto no coração tive que apelar para o homem que mora aqui comigo me tirar das profundezas desse lago que são as emoções e trocar a maldita mangueira do gás, pois não agüentava mais ficar sem exercitar a culinária.
Enfim vou poder tomar um café.