24.1.08

A P A I X O N A R - M E . . .

Como pode alguém acreditar que o simples fato de "ser" – e trata-se de uma existência pífia – bastasse para arrebatar um coração de tamanha complexidade e intensas experiências sensoriais como o meu. No simples desejo de ilustrar minha justificativa conto-lhes uma história que de fictícia nada tem. Guardo, porém, a identidade do meu antagonista (apesar de alguns saberem bem de quem se trata) no intuito de preservar-lhe as relações amorosas atuais, alguém, aliás, que tenho em altíssima estima.

Caminhávamos por entre as bancas de uma longínqua Feira do Livro de Porto Alegre, numa modorrenta tarde de novembro quando éramos apenas flerte. Eis que me distraio, consciente perdido entre as páginas de alguma obra, ouço sua voz a chamar meu nome (sempre gostei de ouvir meu nome no timbre de meus amores). Volto-me a ele e lá está, segurando nas mãos rudes, dedos másculos, um volume, coletânea qualquer de Carlos Drummond de Andrade, página marcada num poema. Entrega-me o livro sem palavra sequer. Lá está impresso:

Reconhecimento do Amor

Amiga, como são desnorteantes os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
onde se reclina a inquietação do forte
( ou que forte se pensava ingenuamente ).
Trazias nos olhos pensativos a bruma da renúncia:
não querias a vida plena,
tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
não pedias nada,
não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.
Descansei em ti meu feixe de desencontros
e de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro –
sadicamente massacrar-te
sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
desde a hora do nascimento,
senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
ou mais longe, desde aquele momento intemporal
em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
no caos universal.
Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir
uma orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria,
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso,
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazia para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
o Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só.
Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
e a pura essência em que nos transmutamos dispensa
alegorias, circunstâncias, referências temporais,
imaginações oníricas,
o vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
as chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
todas as imposturas da razão e da experiência,
para existir em si e por si,
à revelia de corpos amantes,
pois já nem somos nós, somos o número perfeito:
UM.
Levou tempo, eu sei, para que o EU renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
e se confessasse jubilosamente vencido,
até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
a melodia, a paisagem, a transparência da vida,
perdidos que estamos na concha ultramarina de amar

Como pode outro alguém acreditar que qualquer algo a menos que isso pudesse me fazer "apaixonar" outra vez?

21.1.08

A N A L O G I A S

Fumando um dos meus últimos cigarros nesta encarnação tive um insight. Não é uma questão de comparar melhor ou pior, são apenas produtos diferentes, para necessidades diferentes. Não é que uma é um Mercedes e a outra um Uno Mille. A comparação é entre um notebook e uma piscina de plástico (independente de marcas). A questão toda é sobre o que você precisa (e tem utilidade pra você). Tem gente que simplesmente sabe mais o que fazer com uma daquelas piscinas plásticas de 3.000 litros do que com um notebook de última geração. Não dá pra me sentir menos porque no meu HD não cabem as crianças, a avó, o primo fanfarrão e os dois cachorros.

20.1.08

R E S O L U Ç Õ E S P A R A 2 0 0 8

Desta vez eu quis dar uma de bacana e virar o ano sem fazer a tradicional lista de resoluções. Algo para parecer, assim, uma pessoa ultra-descolada, blasé, totalmente bem-resolvida. Como não sou nada disso e a minha pretensão toma outros rumos, aos vinte dias de 2008, mais forte que qualquer lampejo wannabe, eis que ela vem aos jorros:

Lista de Resoluções para 2008
  1. Parar de Fumar (eu tinha tirado temporariamente esta máxima das resoluções da minha listagem anual, mas ela volta agora mais forte do que antes - Ziban e patches - início 03 de fevereiro);
  2. Gastar menos com o glamour decadente (esta resolução envolve sair menos, comprar menos coisas desnecessárias, botar menos dinheiro em gente sem fundamento);
  3. Não atender ligações a cobrar que não tenham sido solicitadas (chega de toquinhos e gente abusada me ligando por seus próprios interesses e eu tendo que pagar a conta - preciso diminuir os gastos em 2008);
  4. Não ficar com ninguém cujo cabelo seja mais longo que o meu e o contra-cheque mais curto;
  5. Voltar para a terapia (saudades de mim);
  6. Arrumar a casa mais uma vez (coisas quebradas, piso velho, quadros para pendurar);
  7. Resolver minha questão na Junta Comercial e Receita Federal (anos demais se passando);
  8. Namorar só alguém que realmente valha a pena (que mexa comigo, mas que eu não tenha vergonha de apresentar para meus pais; que seja lindo, mas que tenha cérebro; que me venere, mas que tenha sua própria vida).
A lista desse ano está maior que a do ano passado, alguns ítens se repetem, outros são simples de atingir. Tem ainda os objetivos bianuais (2008-2009) que incluem comprar carro novo, fazer plástica, visitar a Ana na Irlanda. Tudo depende de dinheiro. Saco.

7.1.08

A E R V I L H A É A M Ã E D O R O C K !

Era uma vez uma roqueira bêbada (redundante isso) que saindo do show do Velhas Virgens com fome convidou seus amiguinhos pra comerem um xis. (xis - se vc não é do RS - é um pão enorme com hamburguer gigante, alface, tomate, maionese, queijo, ovo e, em alguns lugares, milho e ervilha). Chegando no trailler da esquina (onde normalmente se vendem os tais xis), ela e sua amiga rapidamente decidem por dividir um:
"xis salada?"
"beleza. ovo?"
"prefiro sem."
"tá jóia."
"milho e ervilha?"
"certo!"
Pedido anotado pelo garçom que aguardava a ordem dos marmanjos que as acompanhavam. Dois cabeludos de mais de 1m85 discutiam quais os itens dispensáveis no xis:
"tu curte tomate no xis?"
"é."
"bah, tri ruim tomate quente."
"pior é alface que fica toda mole."
"bom mesmo é ovo."
"de preferência bem gorduroso."
"hahaahha. delícia. e milho?"
"milho tá na boa, mas nojento mesmo é ervilha."
"eca! ervilha é muito ruim!"
"ruim é pouco adjetivo, ervilha é nojenta. mole. parece um purê."
Garçom e amiga já olhando torto para os guris, a roqueira bêbada resolve dar um fim à situação de espera:
"Calem a boca. Vocês não sabem nada. A ervilha é a mãe do rock." E virou-se para soltar sua baforada de cigarro crente de ter proporcionado a maior lição de moral da história do rock.

Quer mais? http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=41620421