14.6.05

P E R G U N T E A O P Ó

Devolvi ontem um livro cuja multa por atraso me custou 7 pilas, o equivalente a mais ou menos 10% do valor do livro. Como não cheguei a ler nem 5% das 830 páginas, creio que dei um belo lucro para a biblioteca. Jurei nunca mais utilizar as facilidades de uma instituição pública deste caráter, principalmente durante períodos conturbados da minha existência, quando a não-leitura do livro emprestado normalmente ocasiona em atraso na sua devolução.

Eis que, mal desembolsadas as verdinhas e renovados os votos de abstinência literária, aponta na estante dos títulos recentemente adquiridos nada mais nada menos que o mais comentado livro de John Fante. O "mais comentado" comigo ao menos, que além de nunca ter lido nada de Fante ainda o confundia com Faulkner. Lá estava ele, em meio a Paulos Coelhos, Stephens Kings, Sidneys Sheldons. Uma edição novinha, atual, capa simpática, papel off white. E o melhor: 206 páginas. Redimindo meus pecados ante os literatos americanos, todavia ainda acometida pela dúvida, resgatei o exemplar ali naufragado. Fingindo mera curiosidade, abri a orelha do livro. Bukowski.

A partir desse ponto me nego a escrever quaisquer outras palavras que não um trecho do que li, supondo que bastará para que todos entendam como acabei quebrando minha promessa anti-bibliotecas:

"Eu era um jovem, passando fome e bebendo e tentando ser um escritor. Fiz a maior parte das minhas leituras na Biblioteca Publica de Los Angeles, e nada do que eu li tinha a ver comigo ou com as ruas ou com as pessoas em minha volta. Parecia que todo mundo estava brincando de jogar com as palavras, que aqueles que não diziam quase nada eram considerados escritores excelentes. Seus escritos eram uma mistura de sutileza, artesanato e forma, e era lido e era ensinado e era ingerido e acabou."

Comecei a ler Fante ontem mesmo. Passei das 40 páginas na primeira mordida. Sinto-me um pouco mais distante da escuridão.

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