7.3.08

M A I S U M

Encontrei mais um dos meus textículos (adoro escrever o diminutivo de texto) que já nem mais lembrava ter escrito. O título é provisório, não gosto dele. Mas a literatura compensa. (ah, a modéstia) Confesso que me surpreendi que tivesse escrito esse. Aliás, não lembrava. Devo ter psicografado.
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Às Claras

Ontem conheci aquela pobre coitada que insiste em dizer pra si e para os outros o quanto é amada por ti quando na verdade teu único sentimento pelas mulheres é o desprezo. Foi pensando no quanto tu sentes prazer em fazê-las tristes, amarguradas e humilhadas que entendi a insistência daqueles dois gringos em te rotular viado. É apenas uma questão de imaturidade daquelas inocentes mentes. O que a puerilidade deles não lhes permite entender é que existe uma diferença entre homossexualidade e misoginia. O homossexual sente atração física por outro do mesmo sexo que o seu. Este não parece ser teu caso, pois na cama és um ás do prazer feminino e, ao que tudo indica a princípio, sentes imenso deleite com isso. Mas a tua habilidade sexual com as mulheres não passa da etapa número um do teu grande plano de vingança contra o sexo feminino. Basta te deparares com os primeiros sinais de envolvimento afetivo delas para te inflares de convicção e botares em prática todas as tuas técnicas sádicas de manipulação de emoções. Tuas vítimas até agora têm sido aquelas de baixa auto-estima, geralmente as enfraquecidas por tantas desilusões nos jardins do amor. Mas com elas é fácil demais a conquista do teu objetivo e logo sentes outra vez o apetite insaciável da desforra. Essas pequenas vitórias não te impedem de sonhar alto. Teu alvo maior é aquela que aparente plena confiança em si, altíssimo grau de amor-próprio e, preferencialmente, já tenha arrasado um coração ou dois. Essas são as mulheres que realmente incitam teus desejos mais misóginos. Abatendo-a, tornar-te-ias o herói vingador dos machos desmoralizados! Mas antes das honrarias do teu grupo receberias a recompensa maior, o desafogo para tua busca incessante por retaliação, pois é desse grupo que faz parte aquela que te empurrou para esse jogo.

Faz parte dos teus métodos contar a triste história daquela tua primeira namorada, por quem te apaixonaste loucamente, a primeira que te fez acreditar na beleza do amor só para te humilhar perante os amigos, dormindo com todos eles e te amargurando com palavras insensíveis quando questionada por quê. O que resta de humano e não-calculado em tuas relações está nessa etapa. Contar a saga da tua primeira decepção amorosa é o modo que encontraste de banalizar este evento doloroso da tua existência tornando-o ficcional a cada novo relato. Somente encontraste conforto para tua dor e tristeza ao transformar tua experiência nesse ódio que agora escondes sob essa máscara de Don Juan. Ao mesmo tempo em que vulgarizas teus calos, conquistas a simpatia e a ternura daquelas que pretendes usar como meio para abrandar teu dissabor de homem traído. Tua vileza está em trabalhar com esse sentimento que só a alma feminina é capaz de vivenciar incondicionalmente, mas que mesmo sabendo disso continua a procurar incessantemente no homem tal capacidade.

Essa moça que diz que tu a ama, com quem brincas de amor eterno, que afastas e pões de volta na tua vida, essa sim talvez ainda vá te vencer. Não descobriste como derrubá-la desse pedestal irritante de compreensão e doação, de resignação com o que ela chama de "a tua natureza de macho" e que perdoa tuas prevaricações na crença de que a sina de ser mulher é essa mesmo e que só resta aceitá-la. Ela, que põe de lado auto-estima e amor-próprio, vai, ironicamente, ser a titular do teu coração. Não há lugar mais perfeito para os arranjos do amor que as sandices mentais se encontrando, transformando-se de mazelas particulares em relacionamentos doentios. Tua obsessão em vingar teu ego ferido te fez tanto odiar as mulheres no seu pensar e agir que apenas suportas ao teu lado alguém que anule seus próprios quereres e adormeça sua essência. Assim se explicam essas idas e vindas entre vocês dois.

Sinto-me um pouco desapontada dentro das minhas próprias convicções ao enxergar tua psique com tanta clareza e ainda assim ter acreditado, mesmo que por um tempo ínfimo, que tu talvez pudesses ser o cara e que eu, tão segura de mim, tão cheia de vida, pudesse preencher a tua com alguma emoção. Ao me deparar com a tua verdade, minha autoconfiança me pregou a maior das peças: julguei-me capaz de te desviar desse sórdido plano e finalmente te mostrar o caminho do simples viver. Agora tenho que lidar com a pior das frustrações que é aceitar a derrota pela minha própria soberba. Não te desejo todo o mal, apenas que tua passagem pela minha vida não deixe marca alguma.

E isso nada tem a ver contigo.

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