14.3.08

A B R I U

Houve uma vez em que tive 22 anos e me apaixonei insanamente pelo namorado do meu chefe. Sim, o namorado do meu chefe. Aos 22 ainda era adolescente, as paixões platônicas (ou semi-platônicas nesse caso) ainda me arrebatavam, amores obviamente impossíveis povoavam meus sonhos. E um misto de tristeza e impotência de saber que isso jamais se tornaria uma realidade consistente a atormentar meus pensamentos diurnos.

Eis que me encontro rumo a um compromisso profissional que deveria começar às 14h em ponto. Dirigindo minha Chevy 500 e ruminando as reminiscências do nosso último encontro percebo que são 13h50 e, mesmo estando a apenas três quadras do local da aula, temo não chegar a tempo. E a angústia do amor impossível une-se a da responsabilidade profissional, superdimensionando o trânsito truncado em que me encontro. Os segundos passam e nada se move. Os minutos passam e a sinaleira abre e fecha. Abre e fecha. Abre e fecha. E nada se move. Nem um centímetro. Minha pick-up parada no meio daquele mar de lata-motor-gasolina e o tempo passando. No limiar de entrar em pânico foi que então pensei: "Vai abrir. Uma hora essa sinaleira vai ter que abrir e eu vou passar." E como a iluminação interna às vezes vem das coisa mais cotidianas, me dou conta então de que aquela paixão impossível também ia passar uma hora. A sinaleira daquela história tinha que abrir um dia.

Desde então, sempre que me encontro em alguma situação que me tira o sono, beirando o pânico, lembro dessa história. E vejo que as minhas sinaleiras têm demorado cada vez menos para abrir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito obrigada por ter escrito isso e ter me dado a oportunidade de, agora, poder ler e reler esta história, que tu já havias me contado. Hoje eu precisava muitoooo ler isso, as minhas sinaleiras parecem estar quebradas no vermelho, mas com certeza, um técnico há de vir repará-la!!!
Te amooo!